sexta-feira, 25 de março de 2016

Personal | Ao meu avô


Ao meu avô. A um dos dias que mais gostavas. Hoje sou eu que não vou à missa que tu ias todos os anos. Hoje fomos nós que não conseguimos ir ao cemitério "ver-te". Hoje foi o dia em que podei as rosas e tive saudades tuas. Hoje foi o dia em que todos fizemos alguma coisa mas tu não estavas cá. Hoje foi o dia em que eu fui a primeira a acordar e a acender a lareira. Hoje foi o dia em que senti saudades das tuas queixas com o fumo que fazemos com a lareira. Hoje foi o dia em que voltei a ver o Diogo comer sopas de leite mas sem ti. Hoje foi o dia em que apanhámos as laranjas. Hoje foi o dia em que apanhámos as tangerinas e não estavas lá para nos ensinar a fazer. Hoje foi o dia em que não ralhaste connosco por dormirmos muito à tarde. Hoje foi o dia em que disse que o cheiro da laca me incomodava e a mãe me disse que eu era igual a ti. Hoje foi o dia em que olharam para nós no café e não nos reconheceram porque não estavas cá. Hoje foi o dia em que percebi o quanto ignorei o óbvio. Fazes muita falta aqui. Ninguém fala disto mas estamos todos com vontade de ir ao cemitério "ver-te" ou, na verdade, estar o mais perto possível de ti. Se tudo fosse diferente hoje estavas aqui a queixar-te e a rir das nossas parvoíces. Estarias feliz porque estamos na tua terra.

20 Março de 2016

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